sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Capítulo catorze - E mais um começo?

Deitada em minha cama, ainda com as luzes acesas, vendo a madrugada chegar. Vou me perdendo em pensamentos.

A janela grande e verde de meu quarto mais parece um portal, vejo ela se abrir vagarosamente. Muitas coisas passam por minha mente, o medo não é uma delas.

Uma menina de estranhos olhos coloridos entra, seus cabelos esvoaçam de forma contraditória, mas seu sorriso me faz esquecer esse fato. Ela me apresenta aos seus voadores amigos peixinhos e diz que quer me levar a um lugar.

Ela segura minha mão e mergulhamos para fora da janela, vamos nadando entre as nuvens até a lua.

Ela diz que ali é o tal lugar.

Me sento na beiradinha da lua minguante e aguardo. As estrelas vão se acendendo enquanto a menina de cabelos esvoaçantes parte.

Nisso começo a sentir sono, meu corpo vai amolecendo e a última coisa que lembro antes de meus olhos se fecharem de vez é de um vulto dizendo:

-Cheguei!

Ao abrir novamente meus olhos me encontro em um lugar muito familiar, sei que já estive ali muitas vezes, um belo castelo, tão grande, tão lindo, estou deitada em uma cama da qual não lembro, mas sei onde devo ir, onde esta o meu quarto, sei que aquele castelo apesar de ter outtros donos também me pertence, que tenho meu lugar ali.

Levanto-me e vou caminhando em direção ao meu quarto, sem olhar para os lados, sem falar com ninguém, apenas subo as escadas até o quarto, adentro meus aposentos, fecho a porta, minhas tão belas roupas estão ali, escolho um vestido com tom de velho, com belas fitas vermelhas, ele possui um cheiro de livro antigo misturado com aroma de rosas, é ele não há dúvidas, ao vestí-lo sinto os anos avançarem, ao olhar no espelho não vejo mais meu rosto infantil, mas olho para uma bela mulher, penso que talvez no futuro eu realmente serei assim, olho a face com cuidado, guardando cada deta-lhe para quando acordar não me esquecer deles, quero recordar, para quando envelhecer ter a certeza de que aquele sonho não era apenas um sonho.

Algumas certezas estavam em minha mente, era estranho, mas não conseguia parar de pensar que meu lugar era ali, que naquele instante não havia outro caminho a seguir, talvez mais para frente eu pudesse escolher algo, mas agora agia como que por instinto, sabia onde ir, o que fazer, como se minha mente estivesse dominada por um algo maior e que eu não tinha conciência, talvez essas certezas apenas fossem provenientes do fato de eu estar sonhando, uma hora quem sabe eu poderia entender melhor.

Abri a porta do quarto e estava pronta para realmente conhecer o meu mundo!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Capítulo treze - O tempo corre

O primeiro dia pareceu tão simples,sem grandes alardes, ela parecia tão bem, pena que este estado durou poucas, horas, mas infelizmente eu não pude impedir o que iria acontecer, apesar de tudo não podia simplesmente abandonar meu trabalho, sou o senhor dos sonhos, mas realmente não esperava que a menina se assustasse ou mudasse tão drasticamente de atitude em tão pouco tempo. De fato esperava que em um mês mais ou menos ela começasse a sentir falta de sua casa, mas assim? Foi realmente inesperado.

Logo que cheguei no castelo e fui ao seu encontro, nem ela nem meu caro assistente estavam mais lá, sabia que Enfihr não iria me trair, ele provavelmente estava as voltas com Isabelle, tentando encontrá-la sem se mostrar, afinal ele nunca foi alguém que gostasse de aparecer, o único com quem ele conversava era eu, seu mestre.

Acreditava que não seria tão complicado encontrar os dois, talvez Enfihr até tivesse deixado algumas pistas. Era assim que eu pensava até cruzar os portões. Era impressionante, meus olhos não acreditavam no que viam, o sonhar estava o caos, nada se parecia com o que fora a alguns instantes atras, parecia que Isabelle possuia mais dominio sobre o sonhar do que o que eu imaginava, ela que devia ter causado aquilo, mesmo que inconcientemente.

Parei um pouco para analisar a situação, sabia que se saisse de qualquer jeito era capaz que eu mesmo acabasse por me perder naquelas terras, e mesmo sendo o grande criador sei que juntas muitas algumas criaturas conseguiam ter mais poder que eu, não podia me arriscar, precisava de uma estratégia qualquer, uma maneira de não me perder e encontrá-los ao mesmo tempo.

A razão me mandava a força esperar, mas minha vontade era sair como um louco por aquelas terras, eu precisava encontrar minha pequena, ela também poderia estar em perigo, Enfihr não era assim tão poderoso a ponto de poder protege-la de qualquer mal, e Isabelle não sabia controlar seus poderes, isso poderia causar ainda mais desgraças.

Se eu tivesse pensado mais teria conseguido encontrar uma forma simples de encontrá-la, mas nestas horas nem mesmo o mais sensato dos homens consegue manter a mente serena para encontrar respostas, me via como um pai que perde sua filha, e precisa fazer algo, mesmo sabendo que talvez sentando e esperando possa ver sua filha voltar tranquilamente com um sorriso dizendo que tinha saido apenas para ver o sol se pôr.

Mas como era de se imaginar não me contive e cruzei a saída sem olhar para traz, sem ver o céu negro que se formava aos meus calcanhares, talvez se tivesse visto, mas neste momento nada importava, a ultima coisa que podia, era temer o que viria.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Capítulo doze - De volta ao começo?

Quanto antes eu acabasse...

Mas agora não era hora de pensar, agir para que logo eu pudesse ver os resultados, minha mente já não me deixava trabalhar, era visível a empolgação em meus olhos e notavel também o meu desgaste.

Afinal, tomar conta de dois mundos nunca foi uma tarefa muito fácil, ainda mais quando se resolve fazer alguns trabalhos a mais, mesmo que por hobbie.

Já era hora de ligar minha invenção, logo minha convidada estaria junto a mim, desde o início da humanidade isso nunca havia acontecido, uma sonhadora ali no Sonhar, o único objeto fora dos sonhos que se encontrava neste mundo era eu, Morpheus, idealizador, criador e senhor de todo o Sonhar.

Enfhir, meu ajudante, fruto de meus próprios sonhos começava a acreditar nos boatos de que eu havia ficado louco, mas agora não era momento também de discutir ideologias.

Ela estava ali, deitada a minha frente, Isabelle, para mim ela era como um de meus sonhos, eu poderia ter idealizado cada centímetro de seu ser e de sua personalidade, ela era ideal para os meus planos.

No instante que começou a se espreguiçar tive de me conter, queria ir até ela, saber como tinha ocorrido a travessia, mas ao mesmo tempo não queria que ela se assustasse.

Ao menos o ambiente que estévamos lhe era familiar, ela que havia sonhado aquele castelo, uma verdadeira obra prima da imaginação humana, como seria a terra se os homens tivessem a ciência para erguer cada um daqueles altos muros.

Isabelle se levantou do leito em que estava, subiu as longas escadas de seu castelo, entrou em um dos quartos, o seu quarto, e eu, perdido em devaneios, aguardei sua volta, tudo até então parecia correr meuito bem.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Capítulo onze – Um novo caminho

Depois do nosso reencontro, as coisas se tornaram um pouco embaraçosas, não sabia o que dizer nem como agir com Isabelle, ela voltara a ser a criança de sempre depois do baile.

Por alguns dias, caminhamos de mãos dadas sem pronunciarmos nem ao menos uma palavra um ao outro, em muitos momentos Isabelle me olhava como quem queria dizer algo, mas logo voltava a olhar para frente e caminhar e o mesmo acontecia comigo.

Já sabia de meus sentimentos por ela, mas Isabelle ainda era uma criança, uma menina de olhos curiosos, não era tempo disso acontecer também a ela, então resolvi deixar meu pensar de lado e continuar a jornada, pois estavamos ali por um motivo, encontrar uma saida que a levasse de volta a sua casa.

Porém, mesmo que quisesse pensar nisso, agora eu não poderia. Comecei a sentir o chão a tremer, e pelo olhar de Isabelle ela também havia sentido.

Comecei a procurar a minha volta o que poderia estar acontecendo. Isabelle segurou minha mão com mais força, me desvensilhei dela, pedi que se escondesse, pois não sabia o perigo daquilo tudo. Depois de algum tempo andando encontrei de onde vinham os chacoalhões da terra.

Tentei por um tempo entender o que seria aquilo, mas não consegui, parecia um tipo de ritual, homens e mulheres dançavam em torno de uma fogueira, e de tempos em tempos eles pulavam e batiam cajados no chão, em uma sincronia tão grande que chegava a abalar as estruturas do solo causando os tremores, eles cantavam e dançavam com tanta dedicação que não repararam que eu estava ali os observando, e eu entretido também, quase petrificado não percebi que Isabelle havia saido de seu esconderijo e que agora se encontrava atras de mim e observando tudo.

Se eu não estivesse tão paralisado com o que via talvez pudesse ter feito algo. Quando a cantoria parou Isabelle se levantou e foi até a roda, e tudo recomeçou, eu não entendia o que ela fazia ali, mas mais uma vez ela parecia compreender tudo, saber mais do que eu, quando acordei do transe estava sentado em uma cadeira e participando de um encantamento, Isabelle estava sentada de frente para mim, e as pessoas diziam coisas que eu não conseguia entender.

Um homem alto proferia as palavras enquanto as outras pessoas estavam de mãos dadas em circulo em volta de nossas cadeiras, minha menina parecia desmaiada, sua cabeça pendia para o lado, seu rosto de criança, ela estava imovel, e eu não sabia o que havia acontecido.

Quando ela despertou, uma brisa um pouco mais forte começou a soprar, portas começaram a bater, as árvores assobiavam, mas por mais que eu pensasse nós estavamos em um campo aberto, sem árvores, ou casas ou sejá lá o que pudesse fazer barulho.

E a nossa frente surgiu um espectro que começou a tomar forma, o que eram aqueles seres a nossa volta? Eles que estavam invocando aquilo que surgia a nossa frente? Eram tantas as perguntas, mas parecia que em instantes tudo seria de alguma forma respondido.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Capítulo dez – O baile de Máscaras

Depois que terminamos o chá, saímos daquela estranha casa ainda confusos com todas aquelas palavras, e realmente elas seriam importantes, se não fossem por elas muitas coisas teriam sido diferentes.

Mas nós ainda não sabíamos o que havia sido tirado de nós e nem o que deveríamos nos lembrar, nem ao menos sabíamos se isto realmente tinha alguma importância.

Mas a esta hora isso já não importava a cidade começava a se agitar com as músicas, os acordeons começavam seus primeiros toques, e as pessoas estavam entrando e saindo das casas animadas.

Fomos andando atrás daqueles que pareciam já estarem prontos para a grande festa, pois procurávamos aonde ela aconteceria.

Acabamos encontrando um enorme salão, uma fila enorme se fazia na entrada, ela serpenteava até onde nós estávamos, as pessoas estavam magníficas, cada uma com uma máscara mais bela do que a anterior, haviam máscaras de animais, máscaras desformes e aquelas que era apenas coloridas.

Os olhos de Isabelle brilhavam com tamanho entusiasmo e sem querer ela deixou escapar um suspiro:

-Nossa, eu jamais fui em um baile, quanto mais um assim tão lindo.

Não hesitei e respondi no mesmo tom de voz:

-Mas não é tão lindo quanto você.

Ela se assustou com a resposta, não pude saber se ela havia gostado ou não, nem ao menos saber se sua pele ruborizara, mas sei que a minha sim, a máscara que ela usava me ocultou qualquer sentimento, mas ela se calou e nada mais respondeu.

Ficamos assim calados até entrarmos no salão, lá como que por encanto todo aquele encabulamento que sentimos se dissipou e como um sopro o ar se tornou mais leve, e aquele lugar possuía o cheiro de Isabelle, era o mesmo perfume de flores.

Encantada com tudo Isabelle bailava em círculos sozinha reconhecendo o lugar, todos olhavam admirados para ela, pois não era sempre que alguém se soltava de tal forma, bailar sozinho não era uma coisa tão corriqueira assim.

E o baile foi se desenrolando assim como a tecedeira fazia suas peças, com suavidade e como se tudo fosse sempre assim, como se nada fosse diferente.

Isabelle dançou com todos os cavalheiros do recinto e eu fiquei apenas a admirá-la, seus passos leves pelo salão seu vestido a rodopiar e os olhares ferozes que se dirigiam a ela, e sem que eu reparasse ela não era mais aquela menina, ela era novamente a mulher que se apresentou diante do Senhor do Sonhar.

Quando tudo se aproximava do final fui tomado pelo ímpeto de tirá-la para dançar, ela apenas estendeu a mão para mim e deixou que eu a guiasse no mais belo dos devaneios, nossas mãos juntas, nossos olhos se olhando.

Depois de algum tempo Isabelle fez uma pergunta que me fez temer:

-Mas afinal qual seu nome nobre cavalheiro?

Como aquilo? Ela sabia meu nome, eu o dissera naquele mesmo dia, e ela me encarava como se fosse a primeira vez que me via, eu não consegui ouvir isso, meu desespero foi enorme, minha mão tremia e as lágrimas molhavam meu rosto.

Eu sai do recinto e fui até a fronteira por impulso, chegando perto da saída novamente a linha dourada se fez e a mesma voz retumbante e impiedosa soou:

-Se ousar cruzar esta linha nunca mais será capaz de ver a cidade novamente, mas antes deve ter em mente aquilo que o leva, e se não for sincero consigo mesmo deixará não só uma cidade para trás.

Minha mente não conseguia entender aquelas palavras, tudo que pairava em minha alma era a voz da tecedeira, algo lhe foi tomado, não se esqueça, lembre disso, até que a mente esvaziou, Isabelle, ela me foi tomada, Isabelle.

E com estes pensamentos atravessei a tênue linha.

Meu coração batia acelerado, eu tive medo de olhar para trás, ao chegar do outro lado apenas me sentei, coloquei a minha mascara de lado e ali fiquei.

O tempo parecia passar rapidamente, não saberia dizer quantos sóis passaram pelo céu até que finalmente pudesse descansar, uma voz soou em minhas costas:

-Enfihr?

O medo de me virar ainda era grande, mas nem ao menos precisei, um corpo estava a abraçar minhas costas, era ela, eu sabia que ela viria.

Mas uma dúvida que até hoje paira em minha mente é, o que foi necessário Isabelle lembrar? O que foi tirado dela? O que a fez conseguir sair daquela cidade?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Capítulo nove - A tecedeira do Sonhar

Depois de algumas horas olhando a senhora ela se levantou, foi até uma salinha, voltou, pegou o vestido, e andou em nossa direção. Entregou o vestido nas mãos de Isabelle e a mandou experimentar o vestido.

Agora que ela levantara não parecia mais uma senhora, ela tirara os óculos e prendera seus longos cabelos brancos. Tinha a altura de uma criança, seus olhos eram grandes, um era azul vibrante e o outro era verde escuro.

Usava uma roupa inteira desfiada, mas parecia ser apenas o gosto dela, e não uma roupa destruída, conforme a luz batia o tecido da roupa dela parecia mudar de cor.

Isabelle voltou para mostrar o vestido, ele ficara lindo, servira de forma assustadora, como aquela senhora conseguiu fazer aquele vestido do tamanho exato? E porque o havia feito? Muitas perguntas pairavam em minha mente, mas eu não conseguia pronunciar nem ao menos uma única palavra.

Antes que falássemos qualquer coisa a senhora subiu por uma escada que eu não havia reparado, ela ficava no canto da sala, a fumaça colorida a camuflava.

Por fora a casa só mostrava ter um andar, parecia muito pequena e apertada mas era muito grande por dentro, seu espaço era todo tomado pela fumaça e por muitos tecidos, chapéus, colares, máscaras todos pendurados nas paredes.

Muitas maquinas de costura estavam espalhadas, mas pareciam não serem usadas a anos pois estavam empoeiradas e cheias de teias de aranhas. Quando a senhora voltou trazia nas mãos duas máscaras.

Uma era preta e possuía desenhos desformes em dourado, esta ela me entregou. A outra era purpura e cor de rosa, tinha o formato de uma borboleta, as asas brilhavam em muitos tons de violeta, esta ela entregou a Isabelle, a máscara combinava com perfeição ao vestido.

Assim que colocamos as máscaras a senhora começou a falar com uma voz astral:

- É um prazer ver uma das minhas criações sendo usada por uma criadora do sonhar.

- Qual o seu nome? - Perguntou timidamente Isabelle.

- Sou Vertana, a tecedora. Cruzei as fronteiras de Neoxion a muitos anos, e descobri que não possuía motivos suficientes para conseguir sair, e acabei ficando preza aqui. E como vivente fixa me adaptei da melhor forma, fazendo o que de melhor eu ei fazer. Tecendo.

- Como sabia que viríamos aqui? - Hesitou Isabelle.

- Eu simplesmente sabia, e antes que saiam tenho algo muito importante a dizer para vocês. Mas antes gostaria que me fizessem companhia em um delicioso chá com biscoitos.- Assim que ela disse estas palavras uma campainha soou.- Vejam, eles ficaram prontos. Sentem-se. – Enquanto falava ela tocava nas fumaças e ia tecendo um belo sofá.

Depois que Vertana saiu para buscar o chá Isabelle se aproximou do sofá e o tocou. Da cozinha veio uma voz:

- Sentem-se o sofá é firme. Não tenham medo.

Nos sentamos. Vertana voltou com uma grande bandeja, desproporcional a seu tamanho, equilibrada em apenas uma mão.

- Eu sempre esqueço da mesa.- Ao dizer isso com a mão livre tocou a fumaça formando uma mesa na qual apoiou a bandeja.- Sirvam-se!

As xícaras eram grandes e tinham forma de flores em botões semi abertos. O chá possuía uma cor rosa claro. Os biscoitos eram pequenos e em forma de estrelas, eles brilhavam prateado e soltavam fumaça por ainda estarem quentes. O gosto de tudo era ótimo, mas não se parecia com nada que eu já houvesse provado.

Enquanto comíamos Vertana começou a falar sentada em sua cadeira de balanço. Sua voz soava como uma profecia:

- Há algo que vocês crianças esqueceram. Para sair desse local precisam lembrar de tudo. Não posso ajuda-los quanto a isto. Uma coisa que não dizem quando entramos em Nioxion é que algo sempre nos é tomado e só conseguimos sair quando recuperamos esta coisa. Não se deixem entregar a cidade noturna, vocês tem um longo caminho pela frente, e se não o completarem algo muito ruim pode acontecer.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Capítulo oito - A cidade desperta

Assim que atravessamos a linha e abrimos os olhos foi como se um véu tivesse sido removido, pois agora podíamos ver todas as pessoas, e realmente tudo era uma festa, a cidade estava cheia, haviam pessoas de todos os tipos.

Olhos de todas as cores, cabelos de todos os tipos, peles, pelos, escamas, pessoas de locais que eu jamais vi. Isabelle olhava as pessoas com entusiasmo. Ela parecia querer conversar com todas aquelas pessoas, fazer perguntas.

Mas ela não precisou esperar muito, logo um ser com grandes olhos violeta e longos cabelos esverdeados, escamas madrepérola, veio falar conosco. Ele falava em uma língua diferente, uma sonoridade, parecia estar borbulhando, seu rosto parecia sorrir, mas era difícil entender.

Isabelle não compreendendo nada pediu para que ele parasse de falar. Ele respondeu agora em nossa língua:

- Desculpem-me, as vezes esqueço que estou em outras terras e que nem todos falam a língua das águas. Meu nome é Vorgon. Quem são vocês? Pelo que vejo acabaram de chegar.

- Eu sou Isabelle e este é...- Só agora ela percebia que nem ao menos sabia meu nome, que a única coisa que conhecia em mim era minha aparência.

- Eu sou Enfihr. - Isabelle continuou empolgada sua apresentação, ela sentia que tinha alguma relação comigo, enfim ela sabia meu nome, mas para mim aquilo nada queria dizer.

- Nós estamos a caminho da saída do mundo dos sonhos.

Vorgon começou a rir daquela história. E realmente para alguém que não sabia que ela era uma criadora, aquela história parecia absurda. Isabelle começou a ficar irritada com as risadas, e cada vez mais, começava a se descontrolar. Neste instante Vorgon percebeu nos olhos de Isabelle a ira.

Sorte ele ter percebido isto antes que o pior acontecesse, e o pior seria realmente ruim, nem ela tinha idéia do que iria acontecer mas logo ela descobriria. Pelo visto este havia sido um dia de sorte para Vorgon. Ele rapidamente mudou do assunto:

- Vocês ainda não foram se vestir de acordo com o tema da festa de hoje. Precisam ir logo antes que sejam multados.

- Como assim?- Perguntou Isabelle.

- Como vocês acabaram de chegar ainda não devem ter reparado que hoje é dia de baile de mascaras. - Vorgon disse isso apontando para uma máscara em suas mãos. - Em Neoxion sempre temos festas, e todos são obrigados a se vestirem de acordo com o tema.

- Mas não temos máscaras.

- Eu imagino que não. Não seria normal uma pessoa andar com uma máscara por ai. Mas isto não é problema, você pode retirar uma máscara em qualquer casa.

- Mas eu também não tenho dinheiro para nada.

Vorgon não entendeu nada e eu expliquei para Isabelle:

- No mundo do Sonhar não existem as mesmas coisas que no mundo do qual você veio, aqui não usamos dinheiro, nem moeda alguma. As coisas simplesmente existem para quem as quiser usar, portanto nossas máscaras nos esperam, basta irmos buscar. Em qual casa você acredita que elas estejam?

Isabelle olhou ao seu redor procurando, até encontrar uma casa que a chamasse. E ela encontrou. Apontou para uma casa pequena e com cara de antiga, ela possuía uma cerca toda trabalhada em madeira, agora olhando a casa eu via o quanto o estilo daquela casa combinava com o belo vestido que Isabelle ainda usava, apesar da saia rasgada, e das fitas amarrotadas.

Nós caminhamos até a casa. As ruas estavam cheias de pessoas mascaradas, cada mascara diferente uma das outras, era um verdadeiro carnaval de cores e estilos.

Os olhos de Isabelle brilhavam, ela devia estar tentando imaginar como seria sua máscara.

Quando chegamos até a casa entramos. Havia uma senhora sentada em uma cadeira de balanço, ela costurava um pano lilás. Usava um pequeno óculos redondo na ponta do nariz, a casa cheirava a flores secas e exaurava fumaça de todas as cores.

A fumaça formava filetes espiralados, e de tempos em tempos a senhora encostava na fumaça e esta se tornava tangível, a senhora ia puxando a fumaça e a transformava em belas fitas coloridas e brilhantes que aplicava com todo o cuidado no pano lilás, que começava a tomar as formas de um vestido.

Continuamos na entrada da casa, em silêncio para não atrapalharmos a senhora esperando que ela nos notasse e dissesse o que deveríamos fazer.